AR_8021__2012

Relações: Pe. Aldo Giraudo

Aldo Giraudo (PT)

Giraudo_17-01-14

Considerações acerca da sensibilidade espiritual de Dom Bosco e chaves de interpretação para abordar os seus ensinamentos

Pe. Aldo Giraudo sdb

Dom Bosco è um escritor muito prolífico. Todavia não é considerado um “autor espiritual”, no sentido específico do termo. Entre a quantidade e a qualidade das suas obras e dos seus escritos não encontramos textos análogos aos testemunhos autobiográficos de santa Teresa de Ávila, de S. João da Cruz ou de Teresa de Lisieux. Nem escreveu tratados nem manuais de vida espiritual semelhantes aos Exercícios Espirituais de Inácio de Loyola, ao Combate Espiritual de Lorenzo Scupoli, à Introdução à Vida Devota de Francisco de Sales, ao Exercício de Perfeição Cristã de S. Afonso Maria de Ligório. Mas é igualmente certo que Dom Bosco, educador ctistão da juventude, fundador de famílias de consagrados e de consagradas, foi um homem de profunda vida interior e um verdadeiro guia espiritual. Reconhecem-no aqueles que foram formados por ele. Demostra-o a vasta e viva floração de santidade salesiana no tempo.

Em verdade deixou-nos um substancioso testemunho dos seus ensinamentos espirituais espalhados nos numerosos escritos e documentado nas memórias recolhidas pelos discípulos. Por isso pode ser considerado um “mestre de vida espiritual” no sentido específico da palavra: pela sua fecundíssima ação de formador de santos, de diretor espiritual de comunidades e de indivíduos, de fundador de congregações, de iniciador de um movimento histórico de traços inconfundíveis, que se configura com uma fecunda escola de santidade cristã1.

Portanto, parece-me oportuno apresentar algumas considera-ções e seis chaves de interpretação que podem ajudar a compre-ender a espiritualidade de Dom Bosco e, em particular, a ler com fruto a antologia de textos destinada a este terceiro ano de preparação para o Bicentenário do nascimento do nosso Pai.

Considerações sobre a especificidade espiritual de Dom Bosco

1. No âmbito da história da espiritualidade, se confrontarmos os traços qualificantes do seu magistério e da sua práxis com os das outras escolas espirituais, descobrimos inegáveis sintonias com os ensinmentos de S. Francisco de Sales, encontramos também substanciosos elementos assimilados, através da escola de S. José Cafasso, da moral e da ascética de S. Afonso de Ligório, da espiritualidade clássica, da literatura jesuíta. No seu aposto-lado, especialmente na luminosa e familiar caridade para com os jovens, encontram-se muitos pontos de contacto com S. Filipe Neri e outros santos educadores da Reforma católica.
Todavia Dom Bosco permanece inconfundível. É verdade que, através da Introdução à Vida Devota e dos Entretenimentos Espirituais, Francisco de Sales lhe transmite, reelaborada, a substância da espiritualidade italiana do Humanismo devoto, que enfatiza a beleza da piedade, fonte de alegria espiritual; mantém o equilíbrio entre vontade humana e graça; gosta de simplificar as práticas para as colocar ao alcance das pessoas simples. A escola espiritual italiana entre 1500 e 1600 tem também uma atitude combativa, que nasce da consciência da presença no coração do homem da “dupla lei”, pelo que incita ao “combate espiritual”, ao exercício da mortificação dos sentidos, da oração e da prática sacramental, mas em perspetiva de crescimento virtuoso e alegre (não no sentido medieval do contemptus mundi). Como Francisco de Sales, Dom Bosco encara com otimis-mo esta luta na certeza da vitória, pela sua fé no poder da graça santificante, na eficácia do sangue de Cristo que torna fecundo o esforço humano e abre caminhos de santidade a todos, mesmo aos pequenos, aos rapazes, aos últimos.

Está aqui um dos seus traços espirituais caraterizantes: à vida virtuosa e à santidade são chamados também os rapazes, os adolescentes. Em atenção à estrutura psicológica destes, cuida as pequenas coisas, confere maior importância à mortificação interior do que à corporal; faz finca-pé na alegria do coração e na afetividade da piedade; insiste na unificação da vida de oração e da vida ativa; educa para um espírito de adpatação e de concilia-ção, sem nunca renunciar à totalidade do dom de si a Deus. Sobretudo, abre horizontes de sentido, terrenos e ultraterrenos, fascianantes e estimulantes.

2. Em Dom Bosco o “dar-se”, sugerido com insistência aos jovens, não coincide simplesmente com o tradicional apelo à conversão dos pregadores do seu tempo (“Quem adia a sua conversão corre grande perigo de que lhe falte o tempo, a graça ou a vontade” e arrisca-se à condenação eterna: tinha-o sentido desde pequeno em Butgliera). Não obstante os gostos do tempo, nele a exortação adquire tonalidades luminosas: é convite a abrir-se com generosidade ao primado do amor divino, a ofere-cer a sua própria vida a Deus sem condições e com impulso amoroso, superando todo o apego e egoísmo, atravessando o limiar dos pequenos horizontes e dos interesses mesquinhos. Trata-se fundamentalmente de ajudar cada um a assumir, de modo pleno e definitivo, as promessas batismais, a atualizar, isto é, a realizar o batismo na sua própria condição de rapaz ou de adolescente como estilo de vida, num seguimento apaixonado, incondicional e entusiasta de Cristo; a colocar alegre e operativa-mente Deus no centro da própria vida, dos pensamentos, dos afetos e dos interesses; e deixar-se transfigurar pelo seu Espírito.
O nosso santo Fundador D. Bosco está convencido que deste passo fundamental brota um poderoso dinamismo interior: o único capaz de despertar as energias mais profundas de cada qual, de fazer amadurecer pessoas realizadas e serenas, de produzir no quotidiano frutos espirituais fecundos, de encetar caminhos de purificação e de construção virtuosa, de abrir à santidade operativa: isto é, a uma vida cristã integral e alegre que se exprime no exercício prático da fé e da caridade, na união com Deus, na fidelidade indiscutível aos compromissos e aos deveres do próprio estado, numa vida fervorosa, alegre, em fecundas relações humanas e numa tenção ardente para o cumprimento perfeito em Deus da “feliz esperança”.

3. Como podemos constatar na vida de Dom Bosco, na sua humanidade e na experiência daqueles que a ele se confiaram, a consequência desta escolha é o progressivo amadurecimento de personalidades simpáticas e robustas, marcadas por liberdade de espírito, por fidelidade, pela observância obediente e alegre, pela fortaleza de ânimo e pela coragem nas adversidades, pela operosidade proativa, pela capacidade de ver longe, de abrir horizontes; permeadas de bondade e de ambilidade afetuosas; dispostas ao serviço oblativo do próximo.
Tudo isto é também fruto de um acompanhamento, de uma educação para a consciência e aceitação de si (sem escrúpulos nem angústias), da formação para a superação de si através de um empenhamento constante – simultaneamente combativo e suave – de oblatividade e serviço ao próximo, de equilibrada mortificação dos sentidos, de purificação do coração e de exercício das virtudes. É o resultado de uma mistagogia espiritual capaz de introduzir à oração, de cuidar uma interioridade afetuosa com Deus, de formar numa atitude progressiva de alegre obediência à vontade divina que se traduza também em humilde testemunho evangélico, em tensão apostólica, em compromisso vocacional ao serviço da Igreja e da sociedade.
Portanto, deste ponto de vista, Dom Bosco opta mais por uma ascética do que por uma mística, embora o dinamismo central seja dado só pelo amor de Deus tornado operante; embora o tipo de piedade, de devoção, que ele promove seja caraterizado pela perfeita unificação da ação e da contemplação. E não podia ser diversamente, dado o seu caráter de contemplativo na ação e de apóstolo da contemporaneidade, dado o seu propósito de querer ser luz e sal, fermento evangélico na cidade terrestre em perspetiva da cidade celeste.

4. Quem ler esta antologia, depressa notará algumas insistên-cias, alguns temas recorrentes. São traços inconfundíveis de Dom Bosco, como o “servite Domino in laetitia”; a insistência na centralidade da obediência como via de perfeita configuração com Cristo no dom de si; o acento posto na “bela virtude”, a virtude da castidade, eixo do amadurecimento humano e cristão, via para atingir um equilíbrio geral dos afetos e uma intimidade amorosa e verdadeira com Deus, amado sobre todas as coisas; a valorização pedagógica dos sacramentos; a promoçãode uma forma de devoção mariana inseparável da decidida orientação interior para a perfeição virtuosa na correspondência ativa ao trabalho da graça, no zelo pela glória de Deus, no espírito de oração, no exercício das virtudes quotidianas, no fervor eucarísti-co e apostólico: uma devoção mariana capaz de acender no coração dos jovens o desejo de mais alta perfeição, como escreveu o padre Caviglia.
Aqui é também posta a insistência na frequência sacramental e no papel do confessor-educador, do amigo da alma que – conquistada a confiança do rapaz – ensina a arte do exame de consciência, forma para a contrição perfeita, estimula o propó-sito eficaz, guia pelos caminhos da purificação e do exercício da virtude, inicia no gosto pela oração e pela prática da presença de Deus, ensina as vias de uma fecunda comunhão com Cristo eucarístico. Confissão e comunhão frequente estão intimamente ligadas na pedagogia espiritual de Dom Bosco. Com a confissão assídua e regular promove-se a vida “na graça de Deus e alimenta-se a tensão na virtude que permite abeirar-se de modo cada vez mais “digno” da comunhão frequente; ao mesmo tem-po, criam-se condições para que através da comunhão eucarís-tica Deus possa tomar “posse” do coração de forma definitiva, para que a graça encontre condições interiores ideais que lhe permitam atuar eficazmente, transformar e santificar.
Estas caraterísticas impregnam todo o magistério espiritual de Dom Bosco. Também a espiritualidade do religioso e da religiosa salesianos está embebida delas. A decidida entrega de si a Deus proposta aos jovens assume, na consagração religiosa, um movi-mento mais radical, totalizante, que acentua o primado absoluto de Deus e as exigências práticas de um seguimento incondicional expresso com a profissão dos votos, de uma vontade de configu-ração com Cristo oferecido e imolado. A essência é a mesma.

Algumas chaves de interpretação para entrar na visão espiritual de Dom Bosco

O leitor de hoje, ao abordar os textos de Dom Bosco, dá-se conta de que ele escreve para jovens, para adultos, para religio-sos e religiosas do seu tempo. É certo que o seu discurso conti-nua a ser estimulante também para nós, mas a distância cultural e espiritual percebe-se. A leitura desafia a nossa capacidade de interpretação, estimula a nossa colaboração ativa, faz apelo aos nossos conhecimentos históricos, culturais e teológicos… Portan-to, para dimuir a complexidade, parece-me conveniente indicar seis chaves de interpretação úteis para entrar na visão e na sensibilidade espiritual de Dom Bosco e ajudar o leitor de hoje a reformular os aspetos identitários da sua espiritualidade noutros horizontes culturais e em perspetivas teológicas diferentes.

1. Primeira chave de interpretação: Dom Bosco, (isto vê-se nos seus escritos e nas suas escolhas operativas), tem uma conceção religiosa da história. No seu modo de ver, a história humana e o coração de cada pessoa singular são o lugar da ação salvífica de Deus, numa dialética perene entre tempo e eternida-de, entre graça e fraqueza, entre pecado e redenção. O Deus da Bíblia, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, não é um Deus distan-te que observa os acontecimentos do alto: é próximo, ativo, envolvido nas vicissitudes humanas; o seu Espírito enche, vivifica, trabalha e faz frutificar a terra. Além disso, Dom Bosco está convencido de que o sangue de nosso Senhor Jesus Cristo, para a salvação da humanidade, não é derramado em vão. A graça e o amor de Deus pelo homem são mais fortes do que toda a forma de mal, do que toda a resistência e oposição. E o homem – embora frágil e pecador – não é abandonado a si mesmo. O Criador, em Jesus Salvador e Redentor, vem ao nosso encontro, não só para nos salvar, mas para nos santificar, para nos transfigurar, para nos unir a Si no amor. Por isso Dom Bosco tem uma confiança incondicional em Deus e no poder da sua graça: naquele Deus que se dá totalmente a nós, que oferece o seu Filho unigénito até ao sacrifício da cruz para que ninguém se perca, para que todos possam viver como seus filhos. Portanto, nunca duvida. Escreve a um pároco desanimado, em 1878: [V. Rev.a diz-me:] “Para pouco sirvo? [E eu respondo:] Omnia possum in eo qui me confortat. […] Os tempos são difíceis? Sempre assim foi, mas Deus nunca faltou com a sua ajuda: Christus heri et hodie”2.

2. Segunda chave de interpretação. Desta visão teológica e desta inabalável fé em Deus, deriva a confiança do nosso Santo nos recursos interiores do homem, a sua visão otimista da ação educativa e pastoral, e brota a sua luminosa pedagogia espiri-tual. Mesmo o jovem mais fraco, mas refratário, mais mísero, mais distraído e irrequieto mantém intactos, na visão de Dom Bosco, os traços do rosto do coração daquele Deus que o criou à sua imagem e semelhança. Todo o jovem sente no fundo do seu coração a nostalgia do Pai nosso que está nos céus e a necessi-dade de responder aos seus apelos. Enquanto criatura de um Deus que é caridade, que é amor, todo o rapaz está ontologogi-camente (por natureza) aberto ao amor. Tem uma necessidade imensa de ser amado e de amar, é sensível ao amor gratuito, oblativo, à amizade desinteressada, à gentileza, à atenção pessoal e ao cuidado individual à relação humana positiva. Como educador e como pastor, Dom Bosco confia neste dinamismo interior. A partir desta certeza interroga-se, tenta fazer, experi-menta, nunca recua, não desespera, vai ao encontro, dialoga, propõe, transmite confiança, encoraja, tem paciência, persiste, combate: em suma, educa, forma, instrui, acompanha, assiste.

3. Terceira chave de interpretação. Dom Bosco está também convencido de ser chamado e enviado por Deus para a salvação dos jovens. Está seguro de ter recebido uma vocação para uma missão especial na Igreja e no mundo. Uma vocação que – como muitas vezes afirma ao falar com os seus filhos e com os membros da Família Salesiana – é também nossa. Sente-se instrumento, humilde, mas necessário e eficaz da graça divina. Por isso se faz amigo, irmão, pai para fazer compreender aos jovens o rosto amigo, paterno e materno de Deus. Esta consciên-cia, esta fé na missão recebida dá-lhe coragem e esperança, porque sabe que não lhe faltará a ajuda do Senhor: O chama-mento e a missão incluem o carisma, a graça necessária para a eficácia. Além disso, esta consciência infunde-lhe um forte sentido de responsabilidade. Como aprendeu do padre Cafasso, o pastor, e todos os que receberam uma vocação educativa e evangélica, deverão prestar rigorosíssimas contas a Deus das ovelhas que lhes foram confiadas. São estes os motivos que levam Dom Bosco a tornar-se incondicionalmente disponível nas mãos de Deus e a empenhar-se com todas as suas forças na missão. Quer chegar a todos. Cada um procura comunicar o fogo da fé e do amor que tem dentro de si. A todos quer conquistar para Deus, convencido de assim cooperar eficazmente na transformação da humanidade, na animação cristã da hisória e de ajudar à “salvação” da sociedade, além de ajudar à salvação de cada pessoa.

4. Quarta chave de interpretação. Formado num conceito fortemente testemunhal da ação educativa e pastoral, Dom Bosco sabe por experiência e ensina que só se pode comunicar aos outros aquilo que se possui. A pessoa do pastor e do educador, a sua fé, caridade, esperança, o seu espírito de oração, de retidão, a sua exempalridade moral e a santidade da sua vida são atrativos irresistíveis, poderosíssimos canais para comunicar uma eficaz proposta formativa. Assim faz e assim ensina aos seus colaboradores, adultos ou jovens, desde os primeiros passos do Oratório.

5. Quinta chave de interpretação. Naturalmente, tudo isto não significa que não se deva ter um método, uma estratégia pastoral, um “sistema” educativo. De facto, se com os jovens Dom Bosco insiste que é necessário “dar-se a Deus a tempo” e que é belo fazê-lo, sem esperar a idade adulta ou a velhice, com os educadores e os pastores afirma que é fundamental conquis-tar o coração e a confiança dos jovens pondo em ação todos os recursos do sistema preventivo. Ensina também que não há que ter medo de propor logo, mas de modo significativo, fascinante, um claro percurso de vida cristã, uma consistente espiritualidade juvenil. Certamente, é necessária a gradualidade, requer-se uma pedagogia da vida espiritual. É necessário criar condições favorá-veis; plasmar ambientes educativos belos e estimulantes, sere-nos, ricos de propostas e de presenças humanas simpáticas e contagiantes, capazes de tornar significativa a proposta. É necessário cuidar dos pormenores e das pequenas coisas, organi-zar momentos importantes, proporcionar experiências significati-vas, percursos estruturados, passagens. É importante a progra-mação, a organização, a regulamentação, a calendarização e a avaliação periódica e atenta. É indispensável sobretudo centrar a atenção nos rapazes, dedicar-se à relação pessoal e ao cuidado de cada um, à formação do grupo mais do que à grande comuni-dade juvenil, garantir uma assistência eficaz e um acompanha-mento personalizado. Aqui compreendemos o seu cuidado de formar comunidades educativas e pastorais bem estruturadas, a sua insistência no compromisso pessoal dos educadores e o seu “zelo” ardente e “industrioso”.

6. Sexta chave de interpretação. Devemos ter presente também outro aspeto, muito importante no tempo de Dom Bosco, que é crítico, sobretudo no Ocidente: a confiança e abertura ao futuro, a tendência para a superação, para a transcendência e para a orientação escatológica. Eram traços típicos de Dom Bosco, do seu modo de viver a fé e de perspetivar a ação educativa e a pastoral, mas eram também caraterísticas do ambiente cultural e da visão dos seus jovens. Então confiava-se nas “sortes magníficas e progressivas” – como nota de forma crítica o poeta Giacomo Leopardi em La ginestra (1836) – isto é, acreditava-se na possibilidade e na capacidade de o homem progredir sempre, de se aperfeiçoar, de procurar e alcançar melhores posições sociais e condições de vida, económicas, morais, espirituais e civis; tinha-se uma fé indiscutível no progresso. Também Dom Bosco participava nesta sensibilidade, mas em perspetiva marcadamente evangélica. Estava conven-cido de que todo o jovem, sobretudo pobre, é educado para olhar mais além, para ter esperança, para desejar o resgate moral e espiritual, para tender à superação, ao aperfeiçoamento de si; todo o jovem é convidado a abrir-se, a enfrentar o cansaço, a luta, alimentando poderosamente a esperança; todos são educados para se colocar em busca, para sair de si, para ir além do pequeno mundo pessoal, para ultrapassar horizontes estrei-tos, projetando para um “além”, um “melhor”, para um “ama-nhã”, um “mais além”, um “paraíso”, temporal e eterno. Mas sobretudo a abrir-se à alteridade do Transcendente, do Deus-Amor, o único que pode permitir-nos realizar os nossos anseios mais profundos e atingir a “salvação”. Dom Bosco sabia orientar muito bem este fator, quer na perspetiva religiosa da santidade, da tensão para a perfeição cristã, quer na perspetiva secular da cidadania responsável e competente.

Faço votos que, com a ajuda destas coordenadas e destas chaves de interpretação, a leitura dos textos de Dom Bosco, dos seus ensinamentos de vida espiritual, possa tornar-se estimulan-te para a Família Salesiana.