Lauri

Testemunhos: Gaia Lauri

Gaia Lauri (PT)

Lauri_17-01-14

O carisma salesiano testemunhado com os social network

 Gaia Lauri

Pediram-me que vos contasse como vivo e testemunho o carisma salesia-no no pátio dos social network e vou contar-vos a minha experiência neste âmbito. Antes de tudo, porém, faço questão de dar um esclare-cimento que a muitos poderá parecer inútil, mas que em todo o caso eu julgo necessário: o pátio com P maiúsculo, tão querido a Dom Bosco, é em primeiro lugar o pátio das relações face a face, da palavra sussurrada ao ouvido, do jogo e da confiança; nunca poderei pensar em ter como único espaço de testemunho o social network. O mundo dos social network não é para mim uma segunda vida, nem um espaço a diabolizar, mas um lugar que habito e me permite levar o meu testemunho um pouco mais além do meu oratório ou da minha cidade. Naturalmente é sempre bom ter consciência clara dos possíveis perigos deste pátio digital: o demasiado tempo que se lhe dedica, a enorme quantidade de material inútil e muitas vezes de risco, os perigos que cada um de nós (mesmo na vida quotidiana) se acha no dever de combater. Os social network são para nós um instrumento para de alguma forma estarmos mais perto dos jovens e para levar o nosso testemunho, mas isto obvia-mente não deve ter prioridade sobre a relação presencial nem deve baixar a guarda em relação às armadilhas presentes.

Como conseguir estar mais próximo dos jovens através dos social network? Dando-lhes importância, estando atentos ao que publicam, lendo o que escrevem aos seus amigos, vendo as fotos que publicam. Neste sentido penso que, para os animadores e para quem trabalha com os jovens, o facebook é importante porque por uma frase que escrevem, por um link que publicam, pelo seu modo de o utilizar, posso captar aquele “pedacinho” que me falta e que porventura na realidade de todos os dias o jovem não me mostra, posso compreender que aquele jovem deve ser ajudado a viver aquele aspeto de maneira diferente, posso sobretudo relançar a relação que com ele tenho fora.

O ano passado trabalhei para uma cooperativa social num projeto sobre o protagonismo juvenil e passei por várias escolas superiores da província de Veneza: muitos jovens, terminados os encontros na escola, pediam-me amizade no facebook e eu mesma lha pedia a eles. Isto permitiu-me ver uma faixa de população juvenil muito diferente daquela que encontro no oratório e dos meus jovens do grupo. Em particular tive de me ocupar de um grupito de jovens de Portogruaro que continuei a acompanhar com este projeto encontrando-me com eles de quinze em quinze dias por duas escassas horas. O Facebook permitiu-me captar alguns aspetos muito sérios e preocupantes da vida destes jovemes, mostrou-me que eles estavam a arriscar muito com o seu estilo de vida e com os seus divertimentos: álcool, festas, mesmo problemas com a polícia local… As suas fotos em que vinham “marados” permitiram-me compreender aspetos deles que nunca poderia descobrir vendo-os apenas de duas em duas semanas: isto foi o lançamento de um verdadeiro e próprio tabalho de educação em torno desta problemática.

Aconteceu-me por diversas vezes desde que faço animação com alunos das escolas superiores, estabelecer relação com alguns deles a partir de alguma coisa que tinham publicado que pode ser o vídeo de uma canção, o link de um telefilme. A frase de Dom Bosco “amai o que os jovens amam” veio mesmo a talho de foice nestes casos. Os jovens têm fome de apoio dos adultos e dos seus colegas: dar importância ao que eles publi-cam é responder, obviamente em parte, a esta fome. O objetivo é encon-trar uma pequena chave que possa abrir a relação. É claro que depois a relação deve ser construída pessoalmente, mas o elemento partilhado na web pode ser o ponto de partida.
Utilizo sobretudo o facebook e o twitter e muitas vezes acontece-me pensar: “Quem vê a minha conta, as minhas páginas, que capta de mim? Ou melhor, consegue realmente compreender-me? Capta uma imagem autêntica e real? Este problema da autenticidade é fundamental: apraz-me pensar que uma pessoa que observe o meu perfil tenha uma ideia clara do que eu sou, daquilo em que me empenho, dos meus valores, do meu estilo de vida; isto não por presunção mas para comunicar que vivendo isto, vivendo os compromissos no oratório, optando por estudos voltados para o social, sou feliz e vivo alegre. Se aquilo que nos distingue como crsitãos e sobretudo como salesianos é a alegria autêntica e não a simples euforia do momento, então é bom que seja comunicada também com estes instrumentos através de coisas concretas. Estou firmemente convencida de que a web não é um espaço abstrato a diabolizar e que também este pode ser espaço de apostolado. A web é o lugar em que eu, se opto pelo caminho da verdadeira autenticidade e do testemunho, posso fazer ouvir a minha voz e posso, porventura até com alguma provocação inteligente, lançar o debate que, não obstante, julgo eu, é sempre melhor depois enfrentar presencialmente.

Conseguir levar o próprio testemunho de vida cristã ao espaço dos social network é um grande desafio: com efeito, também neste espaço a fé cristã e a Igreja estão sob fogo cruzado de links, vídeos e ideias muitas vezes resultantes dos falsos preconceitos em que infelizmente estamos mergulhados. Infelizmente, dada a velocidade das informações e dos tempos de partilha, estes preconceitos no espaço digital alastram de maneira assustadora. Queria apenas, na minha pequenez, conseguir dizer: há outras coisas, há uma maneira diferente de ver as coisas, há uma plenitude que é necessário desenterrar. Exemplo: há meses publi-quei as fotos do casamento de dois meus grandes amigos do oratório escrevendo que os seus sorrisos eram a expressão da felicidade dada pela fé com que viveram o namoro e o casamento. A sua opção de viver de forma cristã o seu namoro suscitou em muitos os habituais preconceitos; todavia no dia do casamento todos reconheceram que a sua felicidade provinha de viver este sacramento e este tempo confiando-se ao Senhor e deixando-se acompanhar por Ele e pela comunidade paroquial. Neste sentido digo que os social network me ajudam a mostrar que uma vida de fé e de serviço é uma vida feliz e me ajudam a provocar, em sentido positivo, os que estão agarrados às ideias comuns que circulam na sociedade de hoje. Testemunho é também conseguir ultrapassar o medo de publicar coisas não politicamente corretas, contra a corrente, conside-radas demasiado explícitas ou demasiado cristãs.

Como testemunho eu concretamente a minha pertença ao carisma salesiano? Fazendo coisas que muitíssimos outros já fazem: publico artigos empenhados, insiro canções com textos que fazem refletir, escrevo frases de livros que tentam aprofundar as questões, ligo-me e partilho situações de quem dá a sua vida pelos jovens e pelos pobres, sugiro links de organizações que trabalham nas missões, transmito os vídeos das várias ações de massa do MJS Trivéneto, publico os mails que um grande amigo salesiano nos envia da Etiópia, expresso a minha proximidade e apoio ao Papa. Depois não escondo que de vez em quando também me escapa o desabafo de impropérios contra a organização da minha universidade ou contra a classe política; por vezes também escrevo desabafos banalíssimos sobre o meu dia ou sobre o que me sucedeu. Por isso digo que não sou nada diferente de muitos outros que utilizam os social network como eu. O que, porém, julgo importante é conseguir, na minha pequenez, levar alguma seriedade associada à alegria de fundo que, no meu entender, deve caraterizar um cristão, uma animadora salesiana.

Quem sabe se talvez pela foto de um retiro com o grupo das alunas dos cursos superiores, mais do que por um artigo empenhado, não nascerá em alguém o desejo de se fazer perguntas que ultrapassam o sentir comum. Coloco à disposição do Senhor a minha presença na web, a fim de que de alguma pequena semente lançada, possa nascer em alguém o desejo de O encontrar.